Carta aqueles que sofrem ou Liberdade já: só não pode ferir a ética nem a vida.

Carta aqueles que sofrem ou Liberdade já: só não pode ferir a ética nem a vida.

 

Irmãos que sofrem, irmão que estão em pior situação, não se desesperem, nós, o povo brasileiro, resistimos, estamos resistindo e vamos continuar resistindo. O resultado disso é o processo civilizatório atravessado pela violência, o caos urbano, o abuso, o medo e a desesperança da maioria, dominados por um poderoso sistema de imbecilização humana, montado com celebridades feitas em laboratório e cultura de máquina, que infiltra o cérebro de classes inteiras que vão convertendo-se a seres humanos cada vez mais servis encontrando no álcool e no crack uma saída viável para tanta miséria.

As pressões destrutivas são muitas e muito poderosas, é preciso que aprendas a pensar, que aprendas a refletir sobre seus problemas em conjunto, coletivamente se debruçar sobre aquilo que impede a vida justa e livre na Terra. Ver que nossos problemas são velhos e tem soluções conhecidas. Que há outras maneiras de se pensar, explicar e expressar o mundo, abrindo toda uma quantidade de soluções tecnológicas já disponíveis que impactariam de forma definitiva na vida das grandes populações pobres, oprimidas, sem oportunidades de se desenvolver e ir a diante.

Tudo isso em nome de um projeto científico de nação colonizador, rigorosamente importado, com roupas importadas, shoppings importados, cultura importada, ciência importada, estereótipos estéticos importados, padrão de beleza importado e nenhuma honestidade pois seus agentes e representantes em solo nacional avançam por cima do povo sem respeitá-lo em nenhum espaço. Ou se juntam ao modo de vida predatório e consumista, ou é destruído pela máquina, sendo necessário para sobreviver verdadeiro rigor intelectual, disciplina espiritual para se distinguir a verdade sobre a natureza e a farsa autoritária que se ergueu sobre o ocidente.

 

Só a antropofagia nos une. Cientificamente. Ideologicamente. Nós somos um povo resistente que fez a cultura popular mais exuberante do mundo a revelia dessa invasão colonizatória que apesar de viver nababescamente nunca teve competência cultural de desbancar as manifestações corporais, antropológicas, espirituais, humanas que nos distinguem enquanto povo, enquanto nação mestiça composta por todos os povos da Terra, singularidade viva, povo formado pelas forças da história e do inconsciente coletivo, herdeiro de arquétipos de grandes culturas, caldeirão de experimento cultural e antropológico que revela aquilo que sabemos nos fazer orgulho de sermos brasileiros, nosso afeto, nossas relações humanas, nossa conexão com a natureza e suas forças sagradas, nossa tolerância, muitas vezes excessiva e permissiva, colonial, inferiorizada por esse mecanismo artificial produzido pelo marketing cultural que invadiu todos os espaços.

 

Para mudar é necessário mudar o conhecimento. O conhecimento, os modelos, os paradigmas científicos de nossa era é quem informam e endossam as ações dos cidadãos da classe gestora que oriundos das universidades, por sua vez só acessíveis às classes privilegiadas, decidem o destino das cidades e das nações com base em sua visão de mundo estreita e gananciosa, sempre pautada por um projeto pessoal de poder e de colonização do país inclusive com remessas de dinheiro ao exterior e submissão comercial, cultural e científica. O que vem de fora é sempre melhor. Com isso somos forçados a submergir todo um conjunto de talentos humanos, patrimônios científicos e culturais inteiros de um país de gigantesca singularidade como o Brasil. E assim essa nação desconhece que produziu gênios e revoluções, e nomes como Paulo Freire, Nise da Silveira, Augusto Boal, Haity Moussatché, Nelson Vaz, Amir Haddad, Milton Santos, e tantos outros brasileiros, que nunca nem saberemos os nomes, e que seu povo está historicamente anestesiado e impedido de sabe-los, porque eles, em certo momento de suas carreiras, decidiram trilhar o caminho a favor da humanidade, da vida, da natureza.

 

 - Nise, aperte o botão.

 

 - Não aperto.

 

 - Como assim? Você tem que aplicar a eletroconvulsoterapia.

 

- Não aperto. Não sou capaz de infligir uma violência a outro ser.

 

E aí começou a rebelde. E a cientista brasileira fez luz nas trevas. Transformou seu impulso rebelde num dos mais importantes métodos de promoção da saúde humana do mundo, com impressionantes resultados, únicos, no campo da esquizofrenia crônica e corroborado com outros autores, na saúde humana, disponível no maior museu de arte e loucura do mundo, o Museu de Imagens do Inconsciente, com mais de 350 mil obras, no Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro.

O exercício criativo é essencial para a saúde humana, para a prática da liberdade, para a superação da opressão, e a habilidade de criar e recriar o mundo a sua volta.

Não há dúvidas, é possível, é uma questão de linguagem, mudanças na linguagem, mudanças nas coordenações de conduta, nas palavras, nos conjuntos de ideias, nos paradigmas científicos que, volto a dizer, impregnam as mentes e os corações. Esta muito mais perto do que pensamos. Está perto, dentro de cada um, as forças autocurativas, as forças autoprodutivas, a organização do vivo e todas as suas manifestações. É esse o princípio vital ordenador que nos empurra para nossas vocações como o prazer da companhia, a poesia, a música, o teatro, a medicina, a alegria, a cura. Não há dúvidas, a experiência demonstra. Espalhem a mensagem.


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Vitor Pordeus

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