1o Congresso Aberto da Universidade Popular de Arte e Ciência



O CAOS APARENTE E O ENTENDIMENTO HUMANO
Por Ray Lima



O primeiro congresso da Universidade Popular de Arte, Ciência e Cultura ocorrido nos dias 7 e 8 de julho de 2011, no Teatro Carlos Gomes, Rio de Janeiro, demonstrou que em alguma medida estamos construindo espaços de comunicação e entendimento humano capazes de minimizar o quadro atual de diáspora, indiferença e produção da violência entre as pessoas e entre estas e os ambientes naturais. Diante desse contexto “só os lacaios ficam indiferentes.”

Por um lado, o diferencial se deu pelo ritual de horizontalidade que o encontro produziu. Também pelo fato de não se partir de discursos premeditados, impregnados de certezas e lugares comuns como palestras e oficinas amarrados em uma programação rígida e desigual, como é comum aos congressos, simpósios e seminários, onde a maior parte do tempo é reservada aos medalhões e “detentores do conhecimento.” Por outro lado, mesmo se tratando de um espaço fechado, separatista como é o palco italiano, que divide os atores do público, criando um fosso claro entre os que atuam, produzem, encantam e os que assistem passivamente e admiram o espetáculo, essa lógica foi quebrada por conta da intencionalidade e da cultura de rompimento com o status quo, com o estabelecido por parte tanto dos que organizaram quanto daqueles que participaram desta festa reflexiva, arte-científica, popular e produtora de sentidos.

Uma festa anímica e alquímica onde se cruzaram Mãe Tânia com Vera Dantas, Nelson Vaz com Amir Haddad, José Pacheco com Ângela Antunes e Vitor Pordeus, Júnio Santos com Heloísa Helena e Sérgio, Francisco Gregório com o samba e o candomblé. O que vivenciamos no Teatro Carlos Gomes foi uma profusão de linguagens manifestando sentimentos de mundo articulados às práticas cotidianas de cada experiência ali presentificadas no tempo livre dos atos manifestos que iam dando sentido ao que podemos considerar libertador, vital. Na verdade, uma jornada de “discursos inspiradores”, no dizer de Vitor Pordeus, entrecruzando saberes diversos e modos de dizer que poderia se realizar no morro do Pavão Pavãovinho ou do Urubu-RJ, no Conjunto Palmeiras-Fortaleza-CE, nas praças de Janduís-RN, na África, na Índia em quaisquer lugares investido de vontade política.

Um verdadeiro Escambo, uma travessia do mundo cartesiano, fechado e previsível ao universo simbólico, aberto e imprevisível das artes e das manifestações populares. Aprendemos que a partir do simples alimentamos grandes sonhos, que é daí que grandes rios, lagos e oceanos surgem e são realimentados constantemente. Um encontro re-humanizante, uma manifestação da experiência coletiva e do saber singular dos sujeitos imbricados na tarefa de repensar e reconstruir os caminhos da arte, da ciência, da vida; a expressão do desejo de transformação de uma sociedade doente que insiste em conservar suas feridas com placas de gordura ou drogas paliativas que submetem populações inteiras a migalhas descartáveis de consumo fácil e irresponsável.

Mais do que um congresso, um congraçamento, deixando a gente acreditar que em meio ao aparente caos é possível extrair daí o entendimento necessário à vida em sociedade.



“os espaços têm cheios[i]

vãos se fuis, pontas e meios

veias e veios

vazios não vazios não



os espaços da vida

os espaços têm vida

não são em vão

vazios não vazios não vazios

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