O Palhaço



O Palhaço.

Era uma praça...
Existem muitas praças.
Praças de guerra, de paz, pública, do poder!
Praça de quase todos, de alguns,
Praça dos poderosos, dos desfiles, dos carros oficiais, dos blindados, dos generais!

Praça dos abandonados, dos incluídos nas sobras, nos gritos dos delitos,
Praça de quem precisa gritar para ouvir a própria voz...

Ah! Mas naquele dia a praça era repleta de sonhos, de cores, de sons, de todos...
Era um jardim compartilhado.
Muita gente, sorrisos, beijos, abraços, calor apesar do vento frio.
Ah! Sim guardarei esta data: quinto dia de um agosto oscilante entre os raios de sol
E as nuvens cinzas saturadas.

Estavam lá crianças e velhos, bêbados lúcidos, e ébrios sãos.
Haviam discursos e sorteios, passos e descompassos
E a dança sedutora do caos.
Era a praça do povo, do artista pé-no-chão, pé-de-barro,
Daquele que permanece ligado à terra
Apesar das asas que cria para os outros e para si mesmo.
Era a praça da maioria, do mundo inteiro, do brasileiro, até do francês.

Era o lugar mais feliz
De um planeta sem limites
Que o articientista inventou.
Tudo se movia, tudo bailava...
Mas quis a vida trazer uma prova:
Lento, insano, sujo, fétido e inseguro veio se aproximando.
À borda da roda parou.
Pousou no chão todas as suas coisas.
E todas elas cabiam num único saco.
A pele suja, o cabelo embaraçado, os olhos sem rumo.
Ficou ali estagnado.
Como um límpido contraste,
Como um silêncio estrondoso,
Como uma estátua outrora humana
Ficou ali sufocando a alegria da praça.
Eu, de longe, incomodado, com a minha razão inútil o observava.
Como posso salvar-nos?
Eu não sabia.

Num lugar onde os filmes se fazem por si só.
Numa cinelândia indomada
Eu me tornara de repente a mesma triste estátua.

Eis então que o anjo veio
Com suas asas encobertas pelas vestes do palhaço.
Tocou-lhe as mãos, agarrou-lhe os braços,

Puxou-o para a roda, sorriu, balançou desengonçado...
Então como mágica fez-se novamente humana a maltrapilha estátua.
Um sorriso luminoso o acordara...
O palhaço o salvou e com ele também a mim e a toda praça.

Autor: Getulio Fonseca, 05/08/2010.
Minha homenagem aos companheiros do teatro e, em especial, ao palhaço Vitor Pordeus que puxou o homem para roda. À quem honra, honra!

Comentários

Postagens mais visitadas